segunda-feira, 18 de março de 2013

proximo: Larry Livermore!!!


Músico, produtor e escritor, mas mais do que isso, a pessoa responsável por descobrir a banda Green Day e gravar o primeiro cd de sua carreira, Larry Livermore compartilhou conosco um pouco mais sobre sua contribuição na cena musical punk rock nos anos 80. Analisando sua vida, tanto pessoal quanto profissional, ele nos contou sobre suas motivações para abrir a gravadora Lookout! Records, e ainda confirmou o lançamento do seu livro, intitulado de “Spy Rock Memories”, e de mais dois outros, cujos temas ainda prefere manter em segredo.
Livermore tem publicado em seu blog oficial, alguns capítulos de seu futuro livro, que possui importantes momentos ao lado do Green Day, como o primeiro show em que Tre Cool tocou com a banda.
Para falar sobre isso, e muito mais, ele gentilmente nos concedeu esta entrevista exclusiva. Confiram!
Ao ser questionado sobre sua adolescência em uma entrevista, você respondeu que ‘sociopata’ poderia ser uma boa descrição de si mesmo. Você passou esse período andando em gangs, bebendo muito e se metendo em problemas. Você acha que ter entrado na cena Punk Rock te ajudou a mudar isso?
Sim, ajudou, porque me proporcionou uma maneira de continuar sendo rebelde enquanto fazia coisas criativas e construtivas. A mudança não aconteceu de uma vez, mas gradualmente eu descobri que gravar álbuns, escrever para fanzines, e tocar em bandas era muito mais satisfatório e compensador do que quebrar coisas sem motivo.
Você começou a Lookout magazine em outubro de 1984, um ano antes da banda The Lookouts surgir, seguida pela gravadora Lookout! Records em 1987. Por que você decidiu começar a revista? E aparentemente o nome The Lookout funcionou. Qual a inspiração pra ele?
Bem, eu sempre gostei de escrever sobre coisas e pessoas, às vezes de forma engraçada, às vezes séria, mesmo quando ainda era apenas um garoto na escola. E quando eu estava morando nas montanhas do norte da Califórnia, em uma comunidade bem pequena e remota, eu frequentemente escrevia para o jornal local para discutir ou debater sobre as questões do dia. Mas depois de um tempo as minhas visões se provaram tão controvérsias para alguns leitores, que o jornal se recusou a continuar a imprimi-las, então naquele momento eu decidi começar minha própria revista, onde eu poderia escrever sobre qualquer coisa que quisesse. “The Lookout” vem de uma torre no topo da montanha mais alta da região, que serviu como um mirante, onde alguém sentava na época do verão e olhava os fogos da floresta. A torre era chamada (mesmo nome da montanha) de Iron Peak Lookout, e esse foi o nome original da revista, mas algumas das pessoas locais fizeram objeções a minha identificação da região onde eles moravam, então ficou simplesmente ‘the lookout’. O motivo por eu ter posto esse nome é porque ele representava o que eu queria para a revista: vigiar a segurança e o bem estar das pessoas.
Segundo seus próprios relatos, levou cerca de dois anos e diferentes integrantes antes da banda The Lookouts finalmente sair. Por que demorou tanto? Quais eram seus planos ao formar uma banda na época?
Sim, bem, provavelmente o maior problema era que eu não sabia muito sobre o que era estar em uma banda, ou mesmo sobre como tocar um instrumento, nem a maioria das pessoas que eu chamei para se juntar a mim sabiam. O propósito de estar em uma banda foi bem parecido com o da revista: eu queria comentar sobre as questões sociais e políticas, e trazer a controvérsia e discussão enquanto me divertia. Uma vez que finalmente encontrei as duas pessoas certas para tocar música comigo, as coisas se tornaram ótimas e agradáveis.
O título do post de seu blog onde você fala sobre a origem da Lookout! Records é “Como eu me tornei um capitalista”. Por que você se chamaria assim? Você não pensava em mudar a cena de punk rock ao começar a gravadora?
O uso do termo capitalista foi em parte ironia, mas também o reconhecimento da realidade. Sim, é verdade que quando eu comecei a gravadora, não tinha idéia de que se tornaria um negócio de sucesso, porque naqueles dias, não se ouvia falar que se fazia dinheiro com a música punk. Não necessariamente porque eles não queriam, mas porque ninguém achava que tinha gente o bastante interessada. E também é verdade que meu propósito era permitir que minha banda e a banda de meus amigos fossem ouvidas. Eu nunca sonhei que haveria dinheiro demais envolvido, então me tornar um capitalista foi a última coisa em minha mente. Na verdade, eu deliberadamente criei a gravadora para que as bandas e a gravadora compartilhassem todos os lucros, caso houvessem, então nesse sentido, foi mais um socialista. Mas por favor, compreenda: existe mais de uma forma que a palavra ‘capitalista’ pode ser usada, e o que eu quero dizer não é necessariamente que eu me tornei uma pessoa que era ativamente a favor do capitalismo, mas me encontrei em uma posição de comprar e vender coisas (música e álbuns) e investir e ganhar dinheiro de música e gravações, o que me tornou um capitalista, independente se eu quis ser um ou não. Mas eu sinto que nós mudamos a cena punk rock de certa maneira, ao torna-la possível pela primeira vez para bandas poderem viver de suas músicas, sem ter que assinar contratos com grandes gravadoras. Alguns acham que isso é uma coisa boa, outros acham que não é tão bom assim, mas definitivamente é algo que nós ajudamos a eles alcançarem.
Você pode nos contar a história de como conheceu o Green Day? Como era a cena musical na época?
Era outono de 1988 e eles ainda se chamavam Sweet Children na época. Eu já conhecia seu baterista (John Kiffmeyer, conhecido por Al Sobrante) de quando ele tocava na Isocracy, mas nunca tinha encontrado Billie ou Mike antes. Tre ainda estava em nossa banda, The Lookouts, e ele tinha conseguido com que nós tocássemos em uma festa dada por alguns alunos de sua escola. Quando Al me ligou procurando por lugares em que a Sweet Children poderia tocar, eu os convidei para tocar conosco na festa. A festa foi num lugar bem remoto nas montanhas, e o tempo estava ruim, então apenas 5 garotos apareceram, mas a Sweet Children tocou um show incrível para eles mesmo assim (com luz de velas e usando um gerador, porque não havia eletricidade na casa), e quando eles terminaram, eu os chamei para gravar um álbum, mesmo sabendo que eles tinham apenas 16 anos na época e haviam feito somente 3 ou 4 shows. Aqui no meu blog tem muito mais detalhes sobre esse show: http://larrylivermore.com/?p=2295
A cena musical na época havia começado a decolar e se animar, especialmente no Gilman Street e ao redor de Berkeley, mas onde nós subíamos nas montanhas, muito pouco estava acontecendo. Haviam somente dois ou três shows por ano.
Você mencionou várias vezes em seu blog sobre como pediu ao Green Day (Sweet Children, na época) para gravar contigo quando eles tinham 16 anos e tocaram para um público de 5 pessoas. Como é para você ver como eles estão agora? O que te fez saber que eles estavam destinados a ser algo grande no futuro?
É muito gratificante, claro, e eu não poderia ficar mais feliz por eles, mas também estou feliz pelas milhares de pessoas ao redor do mundo que agora tem a oportunidade de ouvir sua música. Na época em que a maior parte dos nossos shows eram em porões e garagens e pequenos clubes, era difícil imaginar que alguns de nossos amigos seriam conhecidos no mundo inteiro por sua música, mas é verdade que desde a primeira vez que os vi, eu sabia que eles poderiam ser uma das maiores bandas de nosso tempo. Não consigo explicar como sabia disso; era apenas uma daquelas coisas que pareciam completamente óbvias para mim, mesmo quando a maior parte das pessoas riam de mim quando eu dizia isso.
Há diversas informações na internet sobre o Gilman Street e sua importância para a cena de punk rock na Bay Area, mas para os brasileiros que não são familiarizados com o lugar, você poderia explicar essa importância e nos contar o que isso significou para você, e até mesmo para o Green Day, naquela época?
Gilman Street era um clube que nós construímos e operamos, não para lucros, mas apenas pelo amor à música e à cultura punk rock. A maior importância para o Green Day e muitas outras bandas é que ele deu a eles um ótimo lugar para tocar, onde seriam tratados como mereciam, e onde eles tiveram um público que era aberto à sua música. Ao final dos anos 80, isso não era algo do qual as bandas estavam acostumadas a ter, e o clube possibilitou que elas crescessem e se desenvolvessem de uma forma que talvez não seriam capaz se tivessem tocado somente em clubes de rock comerciais. O Gilman Street era como uma segunda casa (ou até mesmo a primeira) para muitos de nós, não somente um clube, mas uma cena, quase uma família, onde nós podíamos nos sentir livres para desenvolver e crescer.
As pessoas costumam te perguntar sobre todas as coisas que você contribuiu como escritor, produtor e músico, mas se você pudesse voltar no tempo, mudaria alguma coisa que fez sobre a The Lookouts ou a Lookouts! Records? Você tem algum arrependimento?
Eu gostaria que tivesse compreendido melhor o quão sortudo eu era por ser parte de tudo aquilo. Mesmo assim, foi muito divertido e eu sabia que as bandas e a cena eram a melhor coisa que estavam acontecendo no país naquela época. Não consigo entender totalmente que as pessoas ainda falariam sobre aquilo e pensariam sobre o que nós estávamos fazendo, talvez mais do que nunca, quase 25 anos depois. Gostaria que a Lookouts não tivessem terminado bem quando estávamos começando a ficar bons, mas na época nós todos estávamos vivendo em lugares diferentes, e uma vez que o Ter entrou no Green Day, era impossível continuar com a Lookouts. Mas foi um período de muita diversão nos 5 anos em que ela durou. Em relação a Lookout Records, eu me arrependo de ter partido dela e de tê-la deixado em mãos de pessoas que não compartilhavam minhas idéias e valores na sua forma de administrar. Percebo agora que se eu tivesse tido uma atitude diferente, poderia ter ficado na Lookout e continuado a levar a empresa sem os problemas pelos quais estava passando, mas infelizmente eu não pude entender isso naquele tempo.
Você compartilhou diversas memórias suas sobre o período do começo do Green Day, e todos os fãs são gratos por isso. Mas há alguma outra lembrança que você poderia nos contar, que não tenha dito antes? Algo curioso sobre eles ou sua carreira, que provavelmente ninguém saiba ainda?
Isso vai ter que esperar para quando meu livro sair!
Em uma publicação do seu blog, você celebra 10 anos desde que parou de beber. Pode se descrever agora? Quem é Larry Livermore? Que tipo de mensagem você gostaria de passar aos seus leitores?
Bem, eu sou um cara que está mais ou menos em paz consigo mesmo e com o mundo, que não usa álcool ou drogas, que é extremamente grato por todas as experiências e oportunidades que lhe tem sido dadas, e que está basicamente esperando para viver o resto de sua vida, seja ele longo ou curto. Eu acho que a única coisa que gostaria de dizer para todos é isto: valorize esses dias, e as pessoas e os relacionamentos e arte e música ao seu redor. O que você pode saber é que alguém pode estar te entrevistando daqui 25 anos e te pedindo para contar a eles o quanto sua vida era ótima em 2011, e você não vai querer admitir que a perdeu.
Pode nos contar sobre seus projetos atuais?
Bom, você mencionou meu blog, no larrylivermore.com, onde eu posto meus textos e idéias e, de vez em quando, minha música. Nos últimos dois anos, eu me dediquei bastante em publicar capítulos do meu livro Spy Rock Memories, que conta a história das montanhas do norte da Califórnia, onde eu costumava morar e onde conheci Ter Cool, e fundei tanto a Lookouts quando a Lookout! Records. Spy Rock Memories sairá em livro completo em abril de 2012, e quando for lançado, acredito que viajarei o país para visitar livrarias e promove-lo. Ao mesmo tempo, o álbum da Lookouts, Spy Rock Road, será relançado duplo, com mais nossas 7 canções e compilações. A ao mesmo tempo, estou trabalhando numa compilação que Billie Joe me pediu, para a Adeline Records, apresentando 16 de minhas bandas favoritas da América do Norte. Se chama “The Thing that ate Larry Livermore”, e será lançado na primavera de 2012. E ultimamente eu tenho feito alguns shows com minha antiga banda, Potatomen, que estava parada desde 2000. Para terminar, vou escrever mais dois livros depois que o Spy Rock Memories for publicado, mas eles serão um segredo por enquanto!
Para terminar, poderia mandar uma mensagem aos fãs brasileiros que estão lendo esta entrevista?
Olá Brasileiros! Tudo bem?

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